quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Governo e oposição travam queda de braço para votação de denúncia

Nas últimas 24 horas o presidente Michel Temer (PMDB) decidiu exonerar ministros para voltar à Câmara dos Deputados temporariamente e votar a favor do governo e publicou medida provisória para aliviar dívidas previdenciárias de ruralistas. Como estratégia, o peemedebista recebeu deputados no gabinete presidencial, almoçou com a Frente Parlamentar da Agropecuária e jantou com dezenas de parlamentares.

A força-tarefa na véspera da votação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o peemedebista por corrupção passiva foi uma tentativa de mobilizar os deputados da base a dar quórum na votação de hoje e enterrar um possível afastamento do cargo.
Após reuniões nas últimas horas de ontem, a base mudou o discurso e prometeu garantir a presença mínima para abrir a votação por volta das 11 horas da manhã. “A orientação é todo mundo chegar e dar presença para concluir logo isso aí”, disse o deputado Raimundo Matos (PSDB). 

O governista Aníbal Gomes (PMDB) garantiu que aliados do presidente vão dar quórum “desde cedo”. “Eu acho que quanto mais rápido for, melhor. Esse é o sentimento da grande maioria”, disse Danilo Forte (PSB).
O presidente Temer, por outro lado, adotou o mesmo discurso da semana passada: o de responsabilizar a oposição pelo início da votação. Disse que quem precisa dar quórum é “quem quer destruir o que a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) decidiu”, que aprovou o arquivamento da denúncia.
O peemedebista, no entanto, fez um apelo inclusive aos deputados que votarão a favor da denúncia para marcar presença no plenário. “Vote como deve votar, de acordo com a consciência de cada um, mas precisa estar presente”, pediu.
Enquanto a base se mostra confiante na vitória, a oposição decidiu não marcar presença até que aliados do presidente se “exponham” desde o início da sessão. “Nós estaremos presentes intensamente, mas não vamos dar quórum para engavetar a denúncia”, disse ao O POVO o deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
Mais realista, André Figueiredo (PDT) admite a derrota, mas espera uma vitória da oposição por maioria simples para se fortalecer para uma possível segunda denúncia contra o presidente por obstrução de justiça. 


“Não temos expectativa de termos 342 votos, nessa denúncia não. Mas temos sim a expectativa de ganharmos nominalmente, o que seria uma grande derrota contra essa pouca vergonha”, disse. Segundo ele, o PDT também não vai registrar presença antes da base. “Se não derem (quórum), nós também não daremos”, prometeu.
A mesma linha é defendida pelo líder da oposição, deputado José Guimarães (PT). “Não vamos dar quórum de manhã, e vamos empurrar a votação para o horário nobre. A obrigação do governo é colocar voto”, disse.

Saiba mais
Confiante que tem os votos mínimos para barrar a denúncia, o governo apela para deputados dissidentes pela presença na sessão de hoje. Temer precisa de apenas 172 votos para barrar denúncia.
A oposição promete registrar presença se a base garantir o quórum sozinha. Caso as 342 presenças sejam registradas, a oposição promete criticar o rito da votação para que o debate se estenda até o horário nobre para desgastar ainda mais o governo e constranger parlamentares que votam a favor de Temer.
A estratégia já circula nas redes sociais. “A votação pode ser na hora da novela. Todo mundo vendo em horário nobre os que querem salvar Temer”, publicou no Facebook a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB).
Quem usou as redes para atacar o PMDB foi o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Crítico de Temer, ele afirmou que fechar questão contra a denúncia “é tatuar deputados com o ferro de um governo que aprofunda as dificuldades do País”.

WAGNER MENDES


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